Mycoplasma genitalium: a IST pouco conhecida que merece atenção

Quando falamos em infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), a maioria das pessoas lembra logo de sífilis, gonorreia ou clamídia. Mas existe uma bactéria menos famosa que tem ganhado destaque nos últimos anos: o Mycoplasma genitalium, ou simplesmente M. genitalium.

Apesar de pequeno, esse micro-organismo pode causar grandes problemas de saúde íntima, especialmente porque ainda é pouco diagnosticado e pode passar despercebido por muito tempo.

O que é o Mycoplasma genitalium?

O M. genitalium é uma bactéria que vive nos órgãos genitais e pode ser transmitida através de relações sexuais sem preservativo. Ele foi descoberto na década de 1980, mas só nos últimos anos ganhou mais atenção da comunidade médica, pois estudos mostraram que ele pode ser uma causa importante de uretrite (inflamação da uretra), cervicite (inflamação do colo do útero) e até doença inflamatória pélvica em mulheres.

Ou seja: mesmo que muita gente nunca tenha ouvido falar dele, trata-se de uma IST real, com impacto significativo na saúde sexual.

Quais são os sintomas?

O grande desafio do M. genitalium é que muitas vezes ele não dá sintomas. Quando aparecem, eles podem ser parecidos com os de outras ISTs, o que dificulta o diagnóstico:

  • Nos homens: ardor ao urinar, secreção pela uretra, desconforto genital.
  • Nas mulheres: corrimento, dor pélvica, sangramento fora do período menstrual ou após a relação sexual.
  • Em ambos os sexos: a infecção pode ser silenciosa, mas ainda assim causar complicações a longo prazo.

Como se pega?

A transmissão acontece pelo contato sexual sem camisinha, seja vaginal, anal ou oral. Assim como outras ISTs, quanto mais parceiros e quanto menor o uso de preservativo, maior o risco de transmissão.

Um detalhe importante: como a bactéria pode ficar “escondida” sem dar sinais, a pessoa pode transmiti-la mesmo sem saber que está infectada.

Por que o M. genitalium preocupa tanto?

O motivo de preocupação é duplo:

  1. Dificuldade de diagnóstico: poucos laboratórios fazem o teste específico para o M. genitalium. Muitas vezes ele passa despercebido, sendo confundido com clamídia ou gonorreia.
  2. Resistência a antibióticos: ao contrário de outras ISTs, o M. genitalium tem mostrado resistência crescente a vários antibióticos, o que torna o tratamento mais complicado. Isso significa que a bactéria está “aprendendo” a escapar das medicações usadas contra ela.

    Como é feito o diagnóstico?

    O diagnóstico do M. genitalium é feito por meio de testes moleculares (PCR), semelhantes aos que usamos para detectar o HIV ou até a COVID-19. Esse exame identifica diretamente o material genético da bactéria em amostras de secreção genital ou urina.

    Infelizmente, no Brasil esses testes ainda não estão amplamente disponíveis na rede pública, mas já existem em alguns laboratórios privados e centros especializados.

    Existe tratamento?

    Sim, existe tratamento, mas ele precisa ser personalizado. Os antibióticos usados variam de acordo com o perfil de resistência da bactéria. Em alguns casos, o médico pode começar com uma medicação e, se não funcionar, trocar para outra.

    Por isso, é fundamental não se automedicar. O tratamento inadequado pode não apenas falhar, mas também aumentar a resistência da bactéria.

    O que pode acontecer se não tratar?

    Quando não tratada, a infecção por M. genitalium pode causar complicações sérias:

    • Homens: uretrite crônica, com sintomas persistentes.
    • Mulheres: risco aumentado de doença inflamatória pélvica, infertilidade e gravidez ectópica (fora do útero).
    • Ambos os sexos: maior vulnerabilidade a outras ISTs, inclusive o HIV.

    Dá para prevenir?

    Sim, a prevenção é a mesma para outras ISTs:

    • Uso correto e regular da camisinha (masculina ou feminina).
    • Testagem periódica para ISTs, mesmo sem sintomas.
    • Conversar abertamente com o médico sobre saúde sexual.
    • Reduzir o número de parceiros ou ter estratégias combinadas de prevenção, como o uso da PrEP (para HIV) junto ao preservativo.

    Por que quase ninguém fala do M. genitalium?

    O motivo é que se trata de uma “nova velha IST”: foi descoberta há décadas, mas só recentemente a ciência mostrou sua importância. Agora que sabemos que ela pode estar por trás de muitos casos de uretrite e inflamação genital que antes eram “sem causa definida”, o tema ganhou relevância.

    Além disso, o problema da resistência aos antibióticos faz com que especialistas do mundo todo vejam o M. genitalium como uma ameaça emergente.

    Quando procurar um médico?

    • Se você tem sintomas como ardor para urinar, secreção genital, corrimento diferente ou dor pélvica.
    • Se teve relações sexuais desprotegidas com novos parceiros.
    • Se já foi tratado para clamídia ou gonorreia, mas os sintomas não passaram.

    Um infectologista ou ginecologista/urologista pode investigar, solicitar o exame (quando disponível) e indicar o tratamento correto.

    Conclusão

    O Mycoplasma genitalium pode até não ser tão famoso quanto a sífilis ou a gonorreia, mas já está sendo reconhecido como uma das ISTs mais desafiadoras da atualidade. A falta de sintomas claros, a dificuldade de diagnóstico e a resistência aos antibióticos fazem dele um inimigo silencioso, mas que precisa ser levado a sério.

    Se você suspeita de alguma IST, não adie: procure um profissional de saúde. Quanto mais cedo o diagnóstico, melhor o tratamento e menor o risco de complicações.

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