Mpox: o que você precisa saber sobre a “varíola dos macacos”

Nos últimos anos, uma nova sigla começou a aparecer nas manchetes e nas conversas sobre saúde global: Mpox. Antes chamada de “monkeypox” ou “varíola dos macacos”, a doença ganhou atenção mundial a partir de 2022, quando deixou de ser apenas um problema restrito a alguns países da África e passou a causar surtos em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil.

Mas o que é exatamente a Mpox, como se transmite, quais os sintomas, e como podemos nos proteger?

O que é a Mpox?

A Mpox é uma infecção causada por um vírus da família dos orthopoxvírus, a mesma da varíola humana. É um vírus de DNA de fita dupla que pode infectar humanos e animais.

Existem dois principais clados (ou linhagens):

  • Clado I: associado a formas mais graves da doença, com maior risco de complicações e mortes.
  • Clado II: associado ao surto multinacional de 2022, transmitido principalmente em redes sexuais, especialmente entre homens que fazem sexo com homens (HSH) e pessoas trans.

Um pouco de história

A Mpox foi identificada pela primeira vez em 1970, na República Democrática do Congo. Desde então, era considerada uma doença endêmica em algumas regiões da África Central e Ocidental, geralmente ligada ao contato com animais silvestres.

Em 2017, a Nigéria enfrentou um surto importante, já mostrando mudanças no perfil da transmissão.

Em 2022, o cenário mudou radicalmente: a doença passou a se espalhar globalmente, sem relação com viagens à África ou contato com animais. Foi a primeira vez que a Mpox se comportou como uma IST (infecção sexualmente transmissível), afetando principalmente HSH, pessoas vivendo com HIV e usuários de PrEP.

Como a Mpox se transmite?

O vírus pode se espalhar de diferentes formas:

  • Contato direto com a pele ou mucosas de alguém com lesões ativas.
  • Atividade sexual, incluindo beijos, sexo oral, anal ou vaginal.
  • Contato com superfícies contaminadas, roupas de cama e toalhas.
  • Via respiratória, através de gotículas em contato próximo e prolongado.
  • Transmissão vertical: da mãe para o bebê durante a gestação.

Sintomas da Mpox

Os sintomas podem variar, mas geralmente incluem:

  • Febre, calafrios, dores no corpo.
  • Ínguas (linfonodos aumentados, principalmente na virilha).
  • Lesões na pele, que podem ser dolorosas e aparecer em regiões genitais, anais, boca ou em outras partes do corpo.
  • Proctite (inflamação do reto), muito descrita no surto de 2022.

A maioria das pessoas melhora em 2 a 4 semanas. Mas em pessoas imunossuprimidas (como pessoas vivendo com HIV com CD4 baixo) e em crianças, a doença pode ser mais grave, causando necrose de pele, complicações pulmonares, oculares e até morte.

Mpox no Brasil

Entre 2022 e 2024, o Brasil notificou mais de 12 mil casos confirmados e ao menos 16 óbitos, a maioria em homens vivendo com HIV.

  • O grupo mais afetado foi o de homens de 25 a 39 anos.
  • Quase metade das pessoas infectadas também vivia com HIV.
  • Muitas estavam em uso de PrEP ou tinham histórico de ISTs recentes.

Esses números colocaram o Brasil como o segundo país do mundo em casos e mortes no período.

Mpox no mundo

  • Em agosto de 2024, mais de 98 mil casos foram registrados em 117 países.
  • A República Democrática do Congo voltou a ter destaque em 2024, com um surto grave do Clado I-b, atingindo especialmente crianças, com taxa de letalidade acima de 5%.
  • Esse cenário preocupa porque pode gerar uma nova emergência global, já que a cepa é mais agressiva.

Diagnóstico

Hoje, o diagnóstico é feito por testes moleculares (PCR) em amostras das lesões. O Brasil conta com uma rede de laboratórios públicos (LACENs) habilitados a realizar esse exame.

É importante diferenciar a Mpox de outras doenças que também causam lesões de pele e mucosas, como herpes, sífilis e varicela.

Tratamento

A maioria das pessoas melhora apenas com tratamento de suporte, incluindo:

  • Analgésicos para dor.
  • Hidratação.
  • Cuidados locais com a pele.
  • Antibióticos se houver infecção bacteriana secundária.

Em casos graves, podem ser usados antivirais como:

  • Tecovirimat (em investigação, já usado em alguns países).
  • Cidofovir e Brincidofovir (mais restritos).
  • Trifuridina para lesões oculares.

Ainda não há um medicamento específico aprovado no Brasil.

Vacinas contra a Mpox

Como a Mpox é “prima” da varíola, as vacinas contra varíola oferecem proteção cruzada. Hoje, a principal vacina usada é a Jynneos® (MVA-BN), de vírus atenuado, aplicada em 2 doses com 4 semanas de intervalo.

  • Aprovada em caráter emergencial pela Anvisa em 2022.
  • Usada em campanhas restritas a populações vulneráveis (como pessoas vivendo com HIV com CD4 baixo).
  • Poucas doses chegaram ao Brasil: cerca de 49 mil, número insuficiente para cobrir todos os grupos em risco.

Estudos indicam que duas doses oferecem mais proteção do que apenas uma, mas ainda há lacunas: não sabemos exatamente quanto tempo dura a imunidade, nem sua eficácia contra as novas variantes do vírus.

Reinfeção é possível?

Sim. Pessoas que já tiveram Mpox ou que foram vacinadas podem se infectar novamente. A boa notícia é que, em geral, esses casos tendem a ser mais leves, com menos lesões e menor risco de internação.

Estigma e Mpox

Assim como aconteceu com o HIV nos anos 1980, a Mpox foi cercada de estigma, principalmente por afetar desproporcionalmente a comunidade LGBTQIA+. Muitas pessoas relataram dificuldade em buscar atendimento por medo de julgamento.

Esse estigma atrapalha a testagem e o cuidado em saúde. É fundamental reforçar: a Mpox não é uma “doença gay”. Embora atinja mais HSH no momento, qualquer pessoa pode se infectar através do contato próximo.

Conclusão

A Mpox mostrou como novos surtos podem surgir rapidamente em um mundo globalizado. Ela nos lembra que a vigilância, a ciência e a comunicação clara são fundamentais para controlar emergências de saúde.

  • É uma doença que pode ser leve na maioria dos casos, mas grave em pessoas imunossuprimidas e crianças.
  • Testagem, cuidado médico e acompanhamento são fundamentais.
  • O Brasil avançou em diagnóstico, mas ainda enfrenta desafios com vacinas e acesso a antivirais.
  • E talvez a lição mais importante: combater o estigma é tão essencial quanto tratar o vírus.

Se você apresentar sintomas suspeitos (lesões de pele, febre, ínguas), procure um serviço de saúde para diagnóstico e orientação. Informação é proteção.

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