Antes de tudo: hoje não existe uma cura disponível para todo mundo. O que já temos — e funciona muito bem — é o tratamento antirretroviral (TARV) que zera a carga viral e impede a transmissão (I=I). “Cura” é o nome-guarda-chuva para pesquisas que tentam duas metas:
- Cura esterilizante: eliminar o vírus de vez do corpo.
- Remissão funcional: manter o vírus “apagado” sem precisar tomar remédio todo dia (pode voltar no futuro).
Abaixo, o que a ciência está testando agora.
1) Anticorpos amplamente neutralizantes (bnAbs)
São anticorpos de laboratório que reconhecem várias “caras” do HIV. Em 2025, um estudo chamado RIO testou dois bnAbs de ação prolongada (3BNC117-LS e 10-1074-LS) em pessoas que pararam o TARV em ambiente controlado.
Resultado: muita gente ficou sem remédio por muitos meses, com “rebotes” mais tardios que o usual; houve também casos de resistência ao 10-1074. Isso não é cura, mas mostra que bnAbs podem sustentar períodos longos de controle sem TARV em parte dos participantes. RIO HIV TrialCROI Conference Outra linha combina bnAbs com estímulos do sistema imune, como agonistas de TLR7 (um “acordador” de defesas). Ensaios em 2025 relataram atrasos no retorno do vírus quando as pessoas interrompem o TARV, especialmente em quem tratou cedo. Ainda são dados preliminares, mas animadores. ContagionLive
2) Vacinas terapêuticas + “acordadores” do sistema imune
Vacinas terapêuticas tentam treinar o corpo para controlar o HIV sem remédio. Em março de 2025, o ensaio AELIX-003 (vacina HTI com o agonista TLR7 vesatolimod) mostrou boa segurança e resposta imune, mas todo mundo teve rebote quando parou o TARV; ainda assim, quem gerou respostas T celulares mais fortes ficou mais tempo sem retomar o tratamento. Ou seja: o caminho parece ser combinar abordagens para aumentar a chance de remissão. Nature
3) “Shock and kill” e “Block and lock”
- Shock and kill (“acordar e eliminar”): usa drogas que “acordam” o vírus escondido (latente) para que o corpo/terapias o eliminem. Sozinha, essa estratégia ainda não reduziu o “reservatório” viral de forma confiável em humanos. Nature
- Block and lock (“bloquear e trancar”): tenta manter o vírus permanentemente silencioso. Um alvo é a proteína viral Tat; o inibidor dCA já atrasou rebote em modelos animais e reduz transcrição viral em laboratório. Ainda não é uma terapia aprovada, mas é uma via promissora de remissão sem eliminar o vírus. PMC
4) Edição genética e terapias celulares
- CRISPR: a ideia é cortar o DNA do HIV que fica integrado nas nossas células. O candidato EBT-101 (CRISPR in vivo) completou a fase inicial de segurança; os participantes seguem em acompanhamento e a empresa está desenvolvendo um vetor de nova geração. É cedo para falar em eficácia clínica, mas é um passo importante. Excision BioTherapeutics, Inc.
- Células CAR-T e outras imunoterapias: “treinam” linfócitos para caçar células com HIV. Já são realidade no câncer, e os primeiros estudos em HIV seguem em fase inicial/experimental. MedNexus
5) Transplante de medula com doadores CCR5-Δ32
Em casos raros, pessoas com HIV e câncer foram curadas após transplante de medula de doadores com uma mutação (CCR5-Δ32) que impede a entrada do HIV nas células. Em 2024-2025, novos relatos reforçaram que é possível a cura individual, mas o procedimento é arriscado e não serve para uso amplo em quem “só” tem HIV. Ele aponta para onde mirar (o alvo CCR5), não um caminho aplicável à maioria. Organizaç ão Mundial da Saúde aidsmap.com
6) Long-acting: um “meio do caminho”
Não é “cura”, mas injeções de longa duração podem reduzir bastante a necessidade de pílulas. Estudos de 2025 testaram combinações como lenacapavir + bnAbs a cada seis meses, mantendo a carga viral suprimida em alta proporção de participantes. Isso se parece com “remissão assistida” — prático, mas ainda com medicação. aidsmap.com
O que tudo isso significa para você, hoje?
- Caminho da cura: está avançando, mas ainda não chegou à prática do dia a dia.
- Remissão sem remédio por meses já é possível em estudo para alguns perfis (especialmente quem tratou muito cedo), usando anticorpos e imunomoduladores, mas sempre com monitorização estreita em pesquisa. RIO HIV TrialNature
- Segurança em primeiro lugar: até lá, TARV continua sendo a forma segura e eficaz de viver com o HIV, com qualidade de vida e sem transmitir.